Parto domiciliar voltou a ser a escolha de algumas mulheres em busca de tranquilidade e conforto na hora de trazerem seus bebês ao mundo, mas o cenário ainda é caseiro E não é unanimidade entre os profissionais de saúde.
O domicílio contribui para a evolução natural do parto e reduz intervenções desnecessárias, além de promover mais liberdade para a mulher.
A principal crítica aponta para o risco de complicações, inerente a qualquer parto, mesmo em gestações que não tenham apresentado problema, pois, caso haja uma emergência, pode não ter tempo de deslocar mãe e bebê para o hospital.
A enfermagem é profissão que está habilitada para realizar o parto natural. A OMS reconhece o domicílio como um local seguro para o parto desde que alguns critérios sejam atendidos. Entre esses critérios, estão o fato da gravidez ter transcorrido sem nenhuma complicação, que o ambiente tenha estrutura e esteja próximo de um hospital pronto para atender emergências. Nos países em que este tipo de parto é feito, há um fluxo muito melhor de transferência de pacientes e uma assistência superior à do Brasil.
Mas não dá para garantir que as coisas serão sempre desta maneira. Podem acontecer problemas de várias naturezas: de descolamento de placenta à hipotonia, passando por sangramentos e outras complicações para a mãe e o bebê.
Alguns requisitos devem ser respeitados. Além do fato da gravidez ter seguido sem intercorrências, por menores que sejam, a mulher precisa ser bem orientada. Ela deve conhecer os riscos e assumir a responsabilidade pela decisão juntamente com a equipe de profissionais que a atenderão. E os profissionais são essenciais para o sucesso do parto domiciliar. Devem compor o time, pelo menos duas enfermeiras obstetrizes – uma para a mãe e outra para o bebê. Por conta da posição do Conselho Federal de Medicina (CFM), os médicos não participam desse momento. Já o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, embora também recomende o nascimento em um centro de saúde, libera os especialistas para acompanharem suas pacientes onde elas escolherem dar à luz.
Outro ponto fundamental é ter um hospital disponível para emergências a menos de 20 minutos de casa. Vale reforçar que nada impede que o parto não saia como planejado. Este é o motivo pelo qual acompanhamento de profissionais qualificados é tão importante: como qualquer ocorrência mais séria ainda exigirá deslocamento, quanto antes ela for identificada, melhor. Além da equipe, o ambiente deve dispor de toalhas limpas, lençóis grandes, espaço para a gestante se locomover, um meio de transporte disponível e adequado e todo o aparato de reanimação. Como a anestesia só é aplicada em hospitais, se as dores ficarem intensas demais, a mulher pode transferida para o hospital– esse é, aliás, um dos principais motivos de remoção.
Também é importante lembrar que o processo pode se estender por horas. Nesse período, a mulher fica livre para se mexer, comer, testar posições e usar métodos não farmacológicos, como exercícios e banho, para aliviar a dor. A família e o parceiro, assim como a doula, são elementos fundamentais nesta história, fornecendo apoio à nova mãe. Enquanto isso, os profissionais de saúde que acompanham o nascimento observam a evolução das etapas do parto. Isso porque a demora excessiva é um dos fatores que determina o risco para mãe e bebê – e que pode fazer o parto terminar no hospital. Em partos com evolução mais lenta, podem ocorrer mais complicações que exigem auxílio hospitalar – é o caso da presença de mecônio (as fezes do do bebê) no líquido amniótico, a queda de batimentos cardíacos fetais e outras mais raras, como o descolamento de placenta e a ruptura uterina.
Se o bebê nasce bem, o que ocorre na maioria dos casos, nos primeiros 30 minutos a prioridade é deixá-lo em contato pele a pele com a mãe. O objetivo é que ele já tenha o contato com o peito e todos os outros procedimentos necessários, como pesar, medir, limpar e realizar alguns testes aconteçam só depois disso (contato pele-pele).
Afinal, fazer ou não fazer?
A ciência comprova benefícios, como menos intervenções médicas e menos risco de complicações para a mãe, mas ainda há discordância quando o assunto é o risco para o bebê. Uma grande revisão de 2015 feita pela Universidade de Michigan, que analisou mais de 20 estudos ao redor do mundo, concluiu que ele é semelhante ao do hospitalMas, em parecer de 2017 sobre o assunto, o Colégio Americano observou um risco duas vezes maior de mortalidade neonatal.
Minha conclusão: Seria mais interessante unir o aspecto humanizado e a atmosfera acolhedora do parto domiciliar à segurança do ambiente hospitalar, algo que ainda precisa ser melhor trabalhado no Brasil. De qualquer maneira, a escolha deve ser da mulher.
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